Assista a seguinte teleaula sobre a Revolução Russa, em seguida leia o texto e responda as atividades:
1 - A crise do czarismo
No século XVIII, o governo czarista deflagrou um processo expansionista, que resultou na formação de um vasto império, constituído por povos com línguas, costumes e religiões diferentes.
No início do século XX, o Império Russo era governado por um monarca absolutista - o czar Nicolau II, da dinastia Romanov - e constituía o país mais populoso da Europa, cuja grande maioria da população - cerca de 85% - vivia no campo. Os camponeses - os mujiques - eram explorados pelos senhores rurais e enfrentavam miséria e fome.
Na década de 1890, o governo imperial e a ainda incipiente burguesia russa tinham o objetivo de industrializar o país, com base em investimentos estrangeiros. No contexto do capitalismo europeu ocidental o país era considerado pobre e atrasado. Camponeses e operários viviam em situação de extrema pobreza, e apenas um pequeno grupo, formado pelos senhores rurais, o alto clero da Igreja Ortodoxa Russa, a aristocracia imperial, os militares de alta patente e empresários do comércio e da indústria, usufruía das riquezas do império. Revoltas e greves eram constantes, apesar de serem duramente reprimidas pela polícia czarista.
No início do século XX, vários grupos políticos defendiam diferentes projetos para transformar essa ordem social. Havia os anarquistas, e também os narodniks - os populistas, em tradução literal, que formavam uma elite intelectualizada e defendiam a implantação do socialismo pelos camponeses. Entre os partidos políticos, havia o Socialista-Revolucionário, com forte base entre os camponeses, e o Operário Social-Democrata Russo, que seguia as ideias de Karl Marx e era bastante influenciado pelo Partido Social-Democrata Alemão.
Assim como os alemães, os social-democratas russos defendiam a revolução social em duas etapas. A primeira, chamada de democrático-burguesa, daria fim aos privilégios feudais e ao absolutismo (ainda existentes na Rússia) e desenvolveria o capitalismo e as instituições liberais no país. O socialismo seria implantado apenas na segunda etapa.
Em 1903, o Partido Operário Social-Democrata Russo realizou seu segundo congresso, em que a questão da filiação partidária foi calorosamente debatida por duas importantes lideranças: Vladimir Lenin e Julius Martov. Lenin defendia a existência de um partido centralizado, formado por revolucionários profissionais e baseado em uma rígida disciplina de seus militantes, que levaria a consciência socialista à classe operária. Já Martov propunha a constituição de um partido que seguisse o modelo alemão: aberto, de massa e no qual o filiado estivesse desobrigado de participar das atividades partidárias.
Martov contava com a maioria a seu favor, mas, durante o congresso, alguns de seus partidários ausentaram-se momentaneamente, permitindo que Lenin se autodeclarasse "maioria" (em russo, bolchevique) e qualificasse o grupo de Martov de "minoria" (menchevique). A partir desse episódio, o Partido Operário Social-Democrata Russo ficou dividido em duas correntes, até que, em 1912, sob a liderança de Lenin, os bolcheviques formaram um partido próprio.
O Domingo Sangrento
Em janeiro de 1905, um processo revolucionário, com ampla participação social, eclodiu na Rússia. Esse conjunto de revoltas ficou conhecido como Revolução de 1905.
Revoltados com os baixíssimos salários, enfrentando fome e frio, 200 mil operários entraram em greve em São Petersburgo. Carregando estandartes com imagens de santos, concentraram-se pacificamente em frente ao Palácio de Inverno - sede do poder na Rússia -, pedindo pão e paz. A polícia czarista abriu fogo contra a multidão, causando a morte de 92 pessoas. Esse episódio, em que milhares de operários foram feridos, ficou conhecido como Domingo Sangrento.
As greves operárias e as revoltas camponesas se multiplicaram a partir de então. Em uma pequena cidade perto de Moscou, os operários criaram uma forma de organização original em que os trabalhadores eram eleitos por seus colegas de fábrica, mas não tinham mandato fixo, podendo ser destituídos a qualquer momento. O exemplo do conselho operário ou soviete se espalhou pelo país e centenas deles se formaram. Os sovietes mantinham operários, soldados e camponeses informados da situação política e dos últimos acontecimentos. A qualquer momento, esses conselhos poderiam mobilizar suas bases.
Outro episódio que marcou esse ano de 1905 foi a revolta dos marinheiros do encouraçado Potemkin que ocorreu no mês de junho. Eles reivindicavam melhores condições de trabalho nos navios de guerra e promoções por mérito.
Pressionado pelas revoltas, o czar se comprometeu a convocar um Parlamento (Duma) e mostrou-se disposto a atender a uma reivindicação comum a todos os partidos políticos, que era a elaboração de uma Constituição para o país. Deputados foram eleitos pela população para formar um Parlamento, mas, com o recuo dos movimentos reivindicatórios, o czar suspendeu os trabalhos da Duma, demonstrando sua face autoritária.
Em ritmo de guerra
O desgaste do regime czarista na Rússia foi agravado pela decisão do czar Nicolau II de aderir ao conflito que se transformaria na Primeira Grande Guerra (1914-1918). Totalmente despreparado, já no primeiro ano de combate o exército russo acumulava uma série de derrotas diante das tropas alemãs e austríacas. No final do ano de 1915, faltavam alimentos, armas e munições nas frentes de batalha, e a Rússia já contava com 4 milhões de soldados mortos, a maioria de origem camponesa. Além disso, a guerra gerou a desorganização da produção agrícola e industrial do império, cuja economia retraiu, gerando ainda mais desemprego. Em 1916, novas greves eclodiram no país, criticando o czar pela condução desastrosa da guerra.
As revoluções de 1917
Em fevereiro de 1917, os russos ansiavam pela paz e a situação tornava-se insustentável para o czar: soldados desertando, falta de alimentos, empobrecimento da população. Uma nova onda de greves teve início em 23 de fevereiro. A crescente oposição de grupos liberais levou à deposição de Nicolau II, no dia 27. O poder foi transferido para a Duma e um governo provisório foi formado.
O novo governo pretendia honrar os compromissos com a Tríplice Entente e continuar na guerra. Depois planejava convocar uma Assembleia para redigir uma Constituição para o país. Mas uma outra instituição disputando o poder político formalmente exercido pela Duma surgiu na antiga cidade de São Petersburgo, quando operários e soldados elegeram seus representantes e formaram, sob a liderança de Leon Trotsky, o soviete de Petrogrado.
A Rússia mergulhou em um verdadeiro caos político. Enquanto a Duma buscava adotar uma política liberal, o soviete de Petrogrado radicalizava o processo revolucionário. Levantes populares se multiplicavam: operários reivindicavam melhores condições de vida e de trabalho; camponeses exigiam terras; soldados clamavam pelo fim da guerra; alguns dos povos que formavam o antigo império queriam autonomia.
O líder bolchevique Vladimir Lenin, que se encontrava exilado na Europa Ocidental, retornou a Petrogrado em abril de 1917. Defendendo a palavra de ordem "Todo o poder aos sovietes", Lenin almejava o fim do governo provisório e a instituição de uma nova forma de poder. Aos poucos, os sovietes russos adotaram a proposta dos bolcheviques, conservando, porém, sua autonomia política.
O governo provisório de Alexander Kerensky não conseguia atender às reivindicações populares: os exércitos russos sofriam derrotas humilhantes nos campos de batalha; os sovietes se multiplicavam nas cidades; as rebeliões se ampliavam no campo. Aproveitando-se desse cenário, os bolcheviques procuraram viabilizar seu projeto revolucionário entre os sovietes.
O ato final
No segundo semestre de 1917, uma nova onda de levantes populares eclodiu na Rússia. Os mujiques passaram a tomar as terras dos grandes proprietários, distribuindo-as entre si de maneira igualitária. Os soldados, em sua maioria de origem camponesa, abandonavam as frentes de batalha para participar da mobilização no campo.
Em várias regiões do império, assembleias se formaram para reivindicar a independência política de alguns dos povos que o integravam.
Também nas cidades, eclodiram novas greves operárias e formaram-se novos sovietes. A partir do soviete de Petrogrado e do seu Comitê Militar Revolucionário, na noite do dia 24 de outubro, os bolcheviques ocuparam lugares estratégicos da cidade e invadiram o Palácio de Inverno. A Revolução Russa foi considerada vitoriosa em 25 de outubro de 1917.
A insurreição bolchevique ocorreu no dia anterior ao II Congresso dos Sovietes. Assim, quando ele foi instalado, já havia um governo formado sob a liderança do partido de Lenin. Embora os bolcheviques representassem uma minoria no conjunto das forças revolucionárias, os sovietes aceitaram a formação desse governo, que contou com a participação de outros grupos de esquerda, como os social-revolucionários. Ele recebeu o nome de Conselho de Comissários do Povo e passou a ser presidido por Lenin.
No poder, os bolcheviques atenderam a diversas reivindicações, conseguindo satisfazer as pretensões da maioria da população: camponeses, operários e soldados. Por meio de decretos, reconheceram o direito dos camponeses à terra, dos operários nas fábricas e dos diversos povos não russos que haviam sido incorporados pelo antigo império.
Os bolcheviques no poder
Em março de 1918, o governo bolchevique propôs um armistício em separado com a Alemanha. Pelo Tratado de Brest-Litovsk pôs fim à guerra entre os países, atendendo ao desejo geral do povo russo: a paz.
A seguir, os bolcheviques fecharam a Assembleia Constituinte, cujas atividades haviam começado em janeiro, e, em julho de 1918, no Congresso Pan-Russo dos Sovietes - controlados por eles -, aprovaram uma nova Constituição.
Enquanto os bolcheviques monopolizavam o governo, os sovietes perdiam sua autonomia e seu poder decisório, transformando-se, como aconteceu também com os sindicatos, em instrumento para referendar as decisões do governo.
Os bolcheviques instituíram ainda o confisco de cereais, em que homens armados, organizados nos chamados destacamentos de ferro, tomavam a produção dos camponeses, gerando enorme insatisfação. O governo revolucionário mostrava-se cada vez mais autoritário.
Foi no mesmo ano de 1918 que o Partido Bolchevique passou a se chamar Partido Comunista, nome que alguns anos mais tarde seria modificado para Partido Comunista da União Soviética (PCUS).
As classes e os grupos sociais desalojados do poder pela Revolução de Outubro de 1917 não se conformaram com a situação e organizaram o Exército Branco, formado por nobres e ex-oficiais do czar, para derrubar os comunistas do poder. Com o apoio de tropas vindas de países capitalistas, como França, Grã-Bretanha, EUA, Japão e até Alemanha, em abril de 1918, deram início a uma guerra civil.
O conflito, que se estendeu até 1921, despovoou cidades, devastou campos e causou a morte de milhões de pessoas. A guerra elevou, ainda, a inflação a tal nível que a moeda deixou de ser usada. Além disso, reduziu a produção industrial e de energia elétrica do país em quase 80% e a agrícola, em 50%. Com a produção em crise, houve um período de grande fome em 1921, com milhões de vítimas.
A Nova Política Econômica (NEP)
Em março de 1921, com o objetivo de estimular a produção agrícola destruída pela guerra, o governo adotou a chamada Nova Política Econômica (NEP). Idealizada por Lenin, a NEP restabelecia algumas regras do capitalismo, como a pequena propriedade privada e o retorno, ainda que limitado, à economia de mercado.
Os camponeses foram obrigados a pagar um imposto único sobre a produção agrícola, mas ganharam o direito de fazer uso de trabalhadores assalariados e de vender o excedente de sua produção no mercado, dentro de certos limites fixados pelo Estado. Para tanto, as feiras foram reativadas e o comércio voltou ao sistema de propriedade privada. A pequena indústria também. Somente a indústria pesada e os sistemas de transporte, bancário e de crédito continuaram estatizados.
O governo ainda acenou para o investimento de capitais estrangeiros produtivos, mas sem sucesso.
De modo geral, contudo, os resultados gerais dessa política econômica foram positivos, e em 1927-1928 os índices da produção agrícola superaram os de 1913 - melhor ano da economia russa antes da Primeira Guerra Mundial. Embora tenha conseguido recuperar a agricultura do país, a NEP obteve pouco sucesso no setor industrial.
O fim da guerra civil e o sucesso da NEP na produção agrícola fortaleceram e consolidaram o governo comunista. Em 1922 foi instituída a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), na qual a hegemonia da República Russa prevalecia sobre as demais.
O fim da era Lenin
Em janeiro de 1924, no auge da NEP, Lenin faleceu, vítima de um derrame cerebral. Sua morte acirrou a disputa para substituí-lo, sobretudo entre Joseph Stalin e Leon Trotsky.
Ambos haviam se sobressaído como destacados líderes ao longo do processo revolucionário. Mas Stalin vinha da militância de base e havia subido na hierarquia do partido conduzido por Lenin. Em 1922, assumira uma função estratégica para o funciomento político-administrativo do sistema soviético, ao ser nomeado secretário-geral do PCUS. Por controlar os postos burocráticos do partido, após a morte de Lenin, Stalin recebeu o apoio de grande parte de seus membros.
Trotsky, por sua vez, era um grande líder político que se destacara na Revolução de 1917 e na guerra civil que se seguira como comandante do Exército Vermelho. Sua liderança carismática, contudo, acabou gerando, entre os membros do partido, o receio de que ele se tornasse um ditador. Além disso, antes de 1917, Trotsky havia atuado entre os mencheviques e, em várias outras ocasiões, discordado de Lenin; ao passo que Stalin sempre pertencera aos quadros bolcheviques.
Nessa disputa, Stalin conseguiu impor seu poder e, com amplo apoio do PCUS, derrotar seus adversários. Trotsky acabou sendo expulso do partido em 1927 e do país em 1929 - no mesmo ano em que Stalin propôs "construir o socialismo" imediatamente.
Stalin e o projeto de seu grupo saíram vitoriosos da disputa: para implantar o socialismo na URSS, era preciso empreender a coletivização do campo e a industrialização acelerada.
Bibliografia:
VAINFAS, Ronaldo (org.) História 3: Ensino Médio. São Paulo: Saraiva, 2016.
Atividade
De acordo com o conteúdo, responda as seguintes questões:
1) Como aconteceu a crise do czarismo no início do século XX?
2) Explique o que foi o Domingo Sangrento.
3) Por que ocorreram as revoluções de 1917?
4) Descreva o papel de Lênin na revolução.
5) Como os bolcheviques chegaram ao poder?
6) O que ficou estabelecido no Tratado de Brest-Litovsk?
7) Cite três medidas adotadas no Governo Bolchevique.
8) Explique o que foi a NEP.
9) Como aconteceu o Fim da era Lênin?